Uma imagem surge espontaneamente, a figura suja de olhar triste de Oliver Twist a entrar no orfanato, nesse belo livro de Dickens. Mas apenas a imagem surgida ou sugerida, tem algo a ver com a situação proposta no titulo desta página, e tem algo a ver porque, o mesmo olhar perdido, confuso, em desespero, passa um pouco, senão por todos, aqueles miúdos, que em determinado dia, envoltos numa história mais bem contada a uns do que a outros, mas a mesma a todos, ouvem, com os olhos cheios de lágrimas, ou se contidas encharcados em dor por dentro, aquela noticia que nunca imaginariam lhes fossem dizer: “vamo-nos separar”, e a primeira pergunta que fazem é, mas porquê? E de seguida ouvem outra resposta que entendem ainda menos: “ já não nos amamos”, aqui a perplexidade passa a ser total ao ponto de responderem: “ mas eu amo-vos e vos amarei sempre, vocês são os meus pais”….
Isto é apenas o início de um longo processo, na maior parte das vezes de confusão na cabeça de uma criança, pois mal ela sabe ainda pelo que tem de passar. Muito provavelmente irá conhecer lugares novos com nomes como, “tribunal, comissões de protecção à criança e advogados, aprendendo que serão estes na maior parte das vezes e não os pais a definirem o rumo da sua vida.
“Rumo da minha vida” pensam os filhos, mas o meu rumo estava tão bom, tinha os meus amigos, os colegas da escola, os meus irmãos, o meu pai e a minha mãe, que rumos são estes?
É aqui que apreendem que nunca mais nada vai ser como antes. É aqui que apreendem que mesmo tudo correndo pelo melhor vão passar a viver exclusivamente com um dos progenitores e a conviver ciclicamente com o outro. É aqui que apreendem um novo calendário para a sua vida, um calendário marcado por quinzenas, com fins de semana alternados, pois passam a ter duas casas, as “suas” onde vivem todos os dias e as outras, do pai ou da mãe onde vão passar fins de semana, assim como datas festivas e férias previamente combinadas. Isto abordando o assunto pelo lado optimista. E é aqui que apreendem também que outras novas pessoas poderão fazer parte das suas famílias, que os seus pais podem voltar a casar e ter inclusive outros filhos, seus irmãos, sem que alguma vez os tenham deixado de amar.
E é assim que descobrem que outras pessoas se juntaram, outras crianças nasceram e a tristeza sem fim inicial na dor da separação pode, como muitas vezes sucede, transformar-se em novo amor familiar onde todos têm o seu lugar afectivamente efectivo. Outros desafios surgirão nas novas vidas das novas famílias, desafios esses em que o amor, mas não só, a coerência, a lucidez, e a empatia, têm que estar presentes, assim como presente deve estar a noção, de que no seio de uma nova família, assim como no seio de uma família tradicional, ou mono parental, o respeito pelo ser, individuo, que em cada um de nós existe, quer tenhamos oito ou quarenta e três anos, deve ser sempre respeitado, tendo por base um ditado popular que eu mesmo alterei: “Todos os gostos se discutem, desde que se respeitem.”
Nós pais, devemos enquanto pudermos aproveitarmos ao máximo para amarmos os nossos filhos e crescermos com eles o mais que pudermos.
Enquanto são pequenos, os nossos filhos vivem de costas voltadas para o mundo e de frente para nós, e, somos nós, pais, que altruisticamente os vamos ensinando a ficar de costas viradas para nós, mas triunfantes e felizes de frente para o mundo.