O dia que começa é anunciado pelo ruído musical de um pássaro madrugador, o sol sorridente à minha frente estende os seus raios de madeira azul sobre o seu corpo nu repousando adormecido junto à lareira onde uma réstia do fogo que momentos antes incendiara em paixão, ainda aquece. As formas do espaço novo, envolvente, vão-se definindo com a nossa luz os nossos aromas, naquilo a que chamamos de nosso lar.
A perfeição de um momento, somado a tantos outros, parecia trazer de novo a magia que só quem ama reconhece, de que é possível e concretizável a vontade do amor em construção. Mas, no fundo, ninguém se reconhece por trás desse amor, sentimento tantas vezes a camuflar a verdadeira humanidade em cada um. Queria antes uma amizade sublime e sincera, onde o amor não pudesse incendiar-se nas fogueiras da paixão para depois, de achas incandescentes, esturricar a pessoa em cada amante, mas onde surgisse da amizade pura, verdadeira, como o desabrochar da flor pela manha, depois de sorvidas as gotas do orvalho.
Já não se ouve agora a cantiga do pássaro madrugador, já não restam corpos iluminados pelo sol que lá permanece com raios de madeira azul. Está frio, gélido, de um sentimento, prendem-se sincelos anunciando um congelamento glaciar por mil anos, há que hibernar para que um dia, a esperança no reflorescimento se concretize…
Uma lua azul risonha, também de madeira, resta junto ao sol, intrusa falaz, que era mais bonito sozinho.